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  • Foto do escritorAndré Ferrreira

O que é a Orientação Profissional?


"Eu vi minha vida ramificando-se diante de mim como a figueira verde da história.

Na ponta de cada galho, como um figo gordo e roxo, um futuro maravilhoso acenava e piscava. Um figo era um marido, um lar feliz e filhos, outro era uma poetisa famosa e consagrada, outro era uma professora brilhante, outro era a Europa, a África e a América do Sul, outro era Constantino e Sócrates e Átila e outros vários amantes com nomes exóticos e profissões excêntricas, outro ainda era uma campeã olímpica. E, acima de tais figos, havia muitos outros. Eu não conseguia prosseguir. Encontrei-me sentada na forquilha da figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia optar entre um dos figos. Eu gostaria de devorar a todos, mas escolher um significava perder todos os outros. Talvez querer tudo signifique não querer nada. Então, enquanto eu permanecia sentada, incapaz de optar, os figos começaram a murchar e escurecer e, um por um, despencar aos meus pés."

- Sylvia Plath em "A Redoma de Vidro"


A protagonista d'A Redoma de Vidro se via em um beco com muitas saídas, tantas que atordoavam-na e fizeram com que ela se paralisasse tamanha angústia. A verdade é que muitos jovens e adultos sentem a dor da escolha de um caminho que, por vezes, significa abandonar tantos outros. A metáfora da figueira apresenta uma imagem potente da inquietude dos trabalhadores contemporâneos. Àqueles que podem escolher, ver-se frente à infinidade de possibilidades muitas vezes oprime a vontade e o desejo reais.

Nossa cultura obriga adolescentes e adultos muito jovens a escolher uma carreira que - aparentemente - precisa ser prazerosa, bem remunerada, contribuir para o mundo, trazer satisfação pessoal plena, permitir um bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional, se tornar sua identidade pessoal e construir reconhecimento.

É natural que vários dos sujeitos nessa situação se encontrem em algum nível de sofrimento. A orientação profissional e de carreira surgiu inicialmente para adequar habilidades dos trabalhadores aos seus futuros cargos. Isto é, pessoas com maior poder de raciocínio lógico seriam melhor empregados em atividades de planejamento e coordenação, enquanto outros com maiores habilidades interpessoais deveriam ser alocados nos setores de vendas e gestão de pessoal. Esta história, no entanto, é antiga e o mundo do trabalho da época não existe mais. O novo papel do orientador profissional, portanto, é o de ajudar os sujeitos a guiarem a própria carreira frente ao cenário de incertezas.

Não existe hoje nenhuma ferramenta, método ou técnica que seja capaz de prever ou extrapolar em qual ou quais áreas determinada pessoa será bem sucedida. Seria como dizer que um exercício em papel tem poder de prever o futuro de nações ou empresas. Se isso existisse, certamente já seria muito cobiçado por todos.

O que fazemos, então? Podemos apenas levantar o máximo de informações possíveis para tomar uma decisão. No caso mais comum, por exemplo, de um jovem que está indeciso acerca de qual curso superior ingressar ou em qual área se especializar, buscamos conhecer: quem é você? como são as áreas de interesse hoje? Alguma suspeita de mudança a curto prazo? E a longo prazo? Qual a melhor decisão para mim hoje?

Extrapolando a metáfora da figueira, examinaríamos atentamente quem é que fala? quem está diante da figueira? como são os figos mais chamativos? É possível alcançar todos os figos? O que pessoas que comeram determinado figo têm a dizer sobre sua experiência? Este ou aquele galho parecem estar murchando?

Indo ainda além, se eu morder um figo e não gostar, ainda há tempo de mudança? Eu terei energia para alcançar outro figo? Posso morder dois ou três figos ao mesmo tempo? Como posso expandir minhas opções? Se ficarmos fixos à ideia de que precisamos escolher um figo e nunca mais chegar próximo da figueira a decisão se torna impossível. A verdade é que sempre há tempo de mudança, nenhuma escolha é eterna, nenhuma profissão dura para sempre e não há nenhum caminho que seja apenas prazeroso ou sofrido.

Talvez possamos imaginar a vida profissional mais como uma ida ao supermercado, tudo o que temos ao escolher um produto é acesso ao rótulo, aos ingredientes e as avaliações de outras pessoas. Mas não faz mal, podemos sempre deixar na beira do caixa algo que não queremos mais. E, mesmo se levarmos para casa, basta voltar ao supermercado ou temperar melhor nossa escolha com os recursos que temos à mão.

Com a orientação profissional e de carreiras aprendemos ferramentas e métodos para construir nossa própria trajetória profissional e continuar aperfeiçoando decisões, atividades, relações com/no trabalho e também a manejarmos melhor nossas expectativas e frustrações.

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