Talvez você tenha mais a perder do que os primeiros colonizadores das américas e, portanto, menos motivo para sair do lugar que já conhece e te sustentou por muito tempo. Mas, talvez, já cresça dentro de você a esperança de novos horizontes e o cansaço do velho mundo onde você se encontra. E, daí, apareça a coragem.
Entender seus próprios sentimentos raramente é uma tarefa simples, e com frequência neste tipo de orientação, no qual emoções dificultam a tomada de decisão, esbarramos em interpretações e intervenções psicológicas. Ao leitor avido de soluções, infelizmente aviso que não há uma fácil.
É preciso entender o medo, de onde vem, se ele é realista ou fruto de uma percepção ansiosa do mundo, qual a sua força e o quanto você está disposto ou não a correr riscos. Imagine uma orientação profissional fictícia, mas infelizmente muito comum como é a realidade de vários estudantes de graduação que trabalham no horário comercial e estudam à noite. Neste cenário, um aluno estava ansioso, com vontade, mas muito medo de largar o emprego e buscar um estágio na área do seu curso.
Pergunto: Você se sustenta com o seu salário atualmente?
- "Sim"
- Conseguiria se sustentar com o salário de estagiário?
- "Não..."
- Você tem alguma condição de largar o seu emprego formal por agora?
- "Não, a diferença de renda seria muito grande. Eu não conseguiria me manter nem pagar a faculdade."
- Quais as opções que você tem agora?
- "Só posso fazer o estágio da faculdade aos sábados e esperar formar para conseguir um emprego que me pague mais que um estágio. Pelo menos terei menos despesas por não precisar pagar a faculdade."
- Apesar de ser triste ver-se preso ao sistema, isso resolve a sua dúvida?
- "Sim"
Sondaria com este cliente a percepção dos salários de estágio em sua área e em geral são realistas. Infelizmente para ele o medo era muito concreto. Abandonar o emprego atual resultaria em tanta dificuldade financeira que ele não conseguiria mais pagar a faculdade e teria de abandonar, também, o estágio que requer vínculo com instituição de ensino.
Imaginemos outro cenário. Uma pessoa que trabalha há 10 anos em uma área que não a satisfaz, mesmo que seja suficiente para pagar suas despesas. O trabalho é entediante, ou vai contra seus valores pessoais. Surgem as dúvidas: será que devo mudar? Quais as opções? Como é este trabalho? Preciso fazer outro curso? Será que eu aguento uma nova faculdade? Será que não estou velho(a) para recomeçar? Quais os meus recursos para me sustentar no meio do caminho? Quais serão meus desafios até chegar onde desejo? Como me preparar para superar esses obstáculos?
Assim como nem todas as pessoas precisam de terapia, nem todos precisam de orientação profissional. Se você for capaz de dar boas respostas que envolvam seus objetivos, valores e o contexto material real para as perguntas acima, já vai conseguir guiar sua carreira com sucesso. Se alguma dessas perguntas tira seu sono, no entanto, talvez a orientação profissional seja para você.